30 de abril de 2013

Claustrofobia – por Salomon

Claustrofobia – por Salomon








   Lembro-me de uma época remota em minha infância e juventude, de um acontecimento traumático que me deixou estremecido pelo resto da vida, uma experiência realmente traumática e assustadora que me tortura hoje só de lembrar o ocorrido.
   Foi realmente horrível, lembro-me de ter despertado subitamente, do que parecia ser um sono profundo ou um desmaio, ou mesmo algo semelhante a um coma.  Inicialmente achei que era noite, pois estava muito escuro e eu nada podia ver em meios às sombras que me cercavam. Também achei que estava deitado em minha cama, mas eu estava miseravelmente enganado, pois eu me encontrava em uma posição desconfortável em um local apertadíssimo, como o interior de uma caixa de papelão. Meus joelhos encostavam-se a meu queixo, eu estava totalmente encolhido e apertado no pequeno espaço.
   Tentei levantar-me, mas bati minha testa na superfície solida de madeira pesada, uma superfície que lhe servia como tampa e me aprisionava naquele espaço fechado. Lembro-me de como comecei a transpirar, o calor me fazia suar como uma cascata.
   A situação me era familiar, logo me lembrei de um conto escrito pelo mestre do terror Edgar Allan Poe, chamado “Enterro Prematuro”, onde o infeliz personagem foi dado como morto pela família e enterrado vivo no cemitério, logo depois dentro do caixão a sete palmos da superfície, ele despertou, e se viu naquela situação nada agradável.
   Logo deduzi que o mesmo acontecera comigo, que estava desconfortavelmente no interior de um caixão de madeira enterrado no cemitério da cidade, esquecido pelo mundo, condenado a morrer daquela forma. Comecei a me questionar, onde eu estava e como eu fui parar ali? Outras questões mais atormentadoras: há quanto tempo eu estou aqui? Horas? Dias? Meses talvez?
   Completamente agoniado, tentei manter a calma, a fim de economizar o oxigênio que me restava na esperança de ser descoberto e desenterrado por alguém. Mas minha tranquilidade logo se esgotou junto com minha esperança, o medo de morrer ali se tornou maior, seria uma morte lenta e funesta, mas não, eu não queria morrer daquela forma. Imagine caro leitor como é desesperador acordar de repente em um lugar escuro e apertado, sem ter a mínima noção de onde está ou como chegou ali, ou ainda: sem saber como sair dali.
   Enquanto o medo tomava conta de meu ser, sentia a sensação de ser o próprio personagem do conto de Edgar Allan Poe. Logo o medo tornou-se paranoia, eu sentia que morreria sufocado ali, pois já estava ofegante demais.
   Então entregue ao desespero e a paranoia, comecei a gritar por socorro, debatendo-me e chutando a tampa de madeira que me prendia naquele espaço apertado, debatia e gritava como um louco desesperado, como se não houvesse mais razão em minha vida.
   Então com o impacto de meus chutes, uma brecha da tampa se abriu, rapidamente, dei-lhe outro chute que fez com que a tampa se abrisse bruscamente. De repente uma iluminação forte fez-me ficar cego por alguns instantes.
   Ainda desesperado e gritando, saltei para fora, mas acabei tropeçando e cai no chão onde permaneci ainda aos berreiros debatendo-me como um louco. Até que uma voz familiar fez-me calar a boca:
-Tá doido desgraçado?- era a voz de meu irmão menor, de apenas onze anos.
-Onde estou? Quanto tempo estava preso?- perguntei-lhe enquanto recuperava aos poucos a minha visão.
-Está em casa, nossa casa, poxa você acabou a brincadeira, eu já ia te procurar-.
   Nessa hora minha visão voltava ao normal e eu pude ver que realmente estava em casa, mais precisamente no quarto que dividia com meu irmão, senti alivio ao ver a cama desarrumada, brinquedos espalhados pelo chão e um grande guarda roupas abertamente revirado.
   Pude também observar o maldito baú de madeira de onde eu havia saído colocado frente à cama onde eram depositados os brinquedos que jaziam espalhados pelo quarto. Então eu finalmente lembrei que eu havia entrado no baú na intensão de esconder de meu irmão, pois estávamos brincando de esconde-esconde. Maldito baú que usei como esconderijo.
   Logo mais, já recuperado do susto, arrastei-me para a cama e fiquei deitado pensando na experiência traumática que havia passado.  Sentia-me um completo idiota, ridiculamente estremecido por dentro, enquanto meu irmão me olhava sem nada entender.
Para distrair, perguntei por fim ao meu irmão:
-Quanto tempo levou até me achar aqui?- e ele me respondeu rindo:
Muito pouco, pois eu ainda estava contando até dez-.






                                                        †††


Um comentário:

  1. incrivel cara vc é um verdadeiro pensador,poeta ao mesmo tempo ^^

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