Claustrofobia – por
Salomon
Foi realmente horrível,
lembro-me de ter despertado subitamente, do que parecia ser um sono profundo ou
um desmaio, ou mesmo algo semelhante a um coma.
Inicialmente achei que era noite, pois estava muito escuro e eu nada
podia ver em meios às sombras que me cercavam. Também achei que estava deitado
em minha cama, mas eu estava miseravelmente enganado, pois eu me encontrava em
uma posição desconfortável em um local apertadíssimo, como o interior de uma
caixa de papelão. Meus joelhos encostavam-se a meu queixo, eu estava totalmente
encolhido e apertado no pequeno espaço.
Tentei levantar-me,
mas bati minha testa na superfície solida de madeira pesada, uma superfície que
lhe servia como tampa e me aprisionava naquele espaço fechado. Lembro-me de
como comecei a transpirar, o calor me fazia suar como uma cascata.
A situação me era
familiar, logo me lembrei de um conto escrito pelo mestre do terror Edgar Allan
Poe, chamado “Enterro Prematuro”, onde o infeliz personagem foi dado como morto
pela família e enterrado vivo no cemitério, logo depois dentro do caixão a sete
palmos da superfície, ele despertou, e se viu naquela situação nada agradável.
Logo deduzi que o
mesmo acontecera comigo, que estava desconfortavelmente no interior de um
caixão de madeira enterrado no cemitério da cidade, esquecido pelo mundo,
condenado a morrer daquela forma. Comecei a me questionar, onde eu estava e
como eu fui parar ali? Outras questões mais atormentadoras: há quanto tempo eu
estou aqui? Horas? Dias? Meses talvez?
Completamente
agoniado, tentei manter a calma, a fim de economizar o oxigênio que me restava
na esperança de ser descoberto e desenterrado por alguém. Mas minha
tranquilidade logo se esgotou junto com minha esperança, o medo de morrer ali
se tornou maior, seria uma morte lenta e funesta, mas não, eu não queria morrer
daquela forma. Imagine caro leitor como é desesperador acordar de repente em um
lugar escuro e apertado, sem ter a mínima noção de onde está ou como chegou
ali, ou ainda: sem saber como sair dali.
Enquanto o medo
tomava conta de meu ser, sentia a sensação de ser o próprio personagem do conto
de Edgar Allan Poe. Logo o medo tornou-se paranoia, eu sentia que morreria
sufocado ali, pois já estava ofegante demais.
Então entregue ao
desespero e a paranoia, comecei a gritar por socorro, debatendo-me e chutando a
tampa de madeira que me prendia naquele espaço apertado, debatia e gritava como
um louco desesperado, como se não houvesse mais razão em minha vida.
Então com o impacto
de meus chutes, uma brecha da tampa se abriu, rapidamente, dei-lhe outro chute
que fez com que a tampa se abrisse bruscamente. De repente uma iluminação forte
fez-me ficar cego por alguns instantes.
Ainda desesperado e
gritando, saltei para fora, mas acabei tropeçando e cai no chão onde permaneci
ainda aos berreiros debatendo-me como um louco. Até que uma voz familiar fez-me
calar a boca:
-Tá doido desgraçado?- era a voz de meu irmão menor, de
apenas onze anos.
-Onde estou? Quanto tempo estava preso?- perguntei-lhe
enquanto recuperava aos poucos a minha visão.
-Está em casa, nossa casa, poxa você acabou a brincadeira,
eu já ia te procurar-.
Nessa hora minha
visão voltava ao normal e eu pude ver que realmente estava em casa, mais
precisamente no quarto que dividia com meu irmão, senti alivio ao ver a cama
desarrumada, brinquedos espalhados pelo chão e um grande guarda roupas
abertamente revirado.
Pude também
observar o maldito baú de madeira de onde eu havia saído colocado frente à cama
onde eram depositados os brinquedos que jaziam espalhados pelo quarto. Então eu
finalmente lembrei que eu havia entrado no baú na intensão de esconder de meu
irmão, pois estávamos brincando de esconde-esconde. Maldito baú que usei como
esconderijo.
Logo mais, já
recuperado do susto, arrastei-me para a cama e fiquei deitado pensando na
experiência traumática que havia passado.
Sentia-me um completo idiota, ridiculamente estremecido por dentro,
enquanto meu irmão me olhava sem nada entender.
Para distrair, perguntei por fim ao meu irmão:
-Quanto tempo levou até me achar aqui?- e ele me respondeu
rindo:
Muito pouco, pois eu ainda estava contando até dez-.
†††
incrivel cara vc é um verdadeiro pensador,poeta ao mesmo tempo ^^
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