8 de outubro de 2015

ATÉ O FIM ( parte 2)

       Parte 2


                                                               
            Erick ainda estava profundamente abalado. Enquanto dirigia rumo a sua casa em um bairro pouco distante dali, seus pensamentos se voltavam hora para o estranho que tentara salvar a vida levando ao hospital, hora concentrado nos ferimentos do braço do rapaz. Pensava naqueles ferimentos, aquelas estranhas marcas de mordida que não lhe eram incomum apesar de saber que nenhum animal deixaria uma marca assim, nenhum exceto o homem.
            Chega! Erick não queria mais pensar naquilo, uma vida se fora, mas ele fez tudo o que podia fazer, não tinha culpa de nada e agora só queria esquecer o que aconteceu. Ligou o radio do carro. Que sorte, tocava sua musica favorita. Durante alguns minutos a viajem fora tranquila ao som de sua trilha sonora, cantada pela voz de uma deusa da musica, seu maior ídolo. A noite parecia calma, não havia movimento de carros nem de pedestres, parecia que a cidade toda estava adormecida. Com a musica, Erick se distrai, não nota uma estranha passando na frente do seu carro sem olhar para os lados. Já era tarde demais para se desviar, o acidente foi inevitável. Com a violência da batida, o corpo fora praticamente arremessado, vinte metros na frente do carro.
            Assustado, Erick sai do carro e corre em direção ao corpo arremessado no chão, enquanto isso, no radio do carro, sua musica era interrompida por um alerta regional:

(...) Atenção habitantes, quem vos fala é o agente de segurança nacional, quero que prestem muita atenção no que vou falar: Uma horrível infecção infestou a cidade. Os infectados são pessoas perigosas e agressivas, por tanto tomem muito cuidado. Aconselhamos a todas as famílias que fiquem em suas casas e lá permaneçam até o problema ser amenizado. Por favor, não saiam de suas casas, e se virem alguém, com os olhos totalmente brancos, corram, é um infectado! Permaneçam com o radio ligado para mais informações em breve! Tenham uma boa noite. Obrigado (...)
            Erick estava distante, não conseguira ouvir o alerta no radio, estava longe prestando socorro a estranha mulher que entrara na frente do seu carro. Ao se aproximar, Erick nota a perna da moça dobrada para trás, quebrada, pior, sua perna estava em estado avançado de decomposição, deveria ser uma doença ou algo do tipo, Erick não deu atenção a isso. A jovem era uma moça, uma adolescente, parecia estar desacordada. Não lhe surpreende, depois de uma batida violenta como aquela, a jovem deveria no mínimo desfalecer-se, perdendo todos os sentidos, ou mesmo, a vida. Mas Erick se surpreende depois de se aproximar dela, e ver a jovem abrir os olhos e gemer como se agonizasse com a dor do impacto da batida.
            —Moça, você está bem? Eu não a vi atravessando a rua, me perdoa, olha... Já estou chamando a ambulância. — Dizia Erick pegando o celular no bolso e discando o numero de emergência. Esperou atenderem, mas o outro lado da linha não dava sinal de vida. Após longos segundos de espera, desiste. A jovem se contorcia e gemia deixando Erick agoniado e sem saída. Não sabia o que fazer, Tinha medo de fazer o mesmo que fizera com o outro que tentara salvar, mas tinha medo. Ela estava em um estado muito pior que o outro, precisava ficar parada, imobilizada. Um carro pequeno não era um bom transporte naquela situação, ela precisava urgentemente de uma ambulância, pensava Erick.
            Desesperado, fica ao lado da moça, perdido e sem saber o que fazer, logo avista um grupo de cinco pessoas, caminhando um pouco longe, há dois quarteirões. Erick grita por socorro.
            —Ei, vocês ai, alguém ajuda! Ela foi atropelada precisa de ajuda rápido!— E em resposta, os cinco se voltam para Erick com olhares famulentos. Se Erick os observasse com atenção, veria que um estava sem uma das orelhas, outro sem um dos braços e o mais assustador, havia um sem metade da cabeça. Ambos se apressaramm correndo em direção a Erick.
            —Ótimo moça, eles estão vindo ajudar— Dizia Erick enquanto voltava-se para a moça, mas ao voltar-se para trás, seu corpo estremeceu. A jovem levantava-se sozinha, mesmo sobre a perna quebrada ela punha-se de pé. Erick aquiesceu-se, assustado, olhava nos olhos da jovem, não viu nada além de suas órbitas brancas cercadas por grossas olheiras negras. Era um zumbi praticamente. Pálida como cadáver, ela rosnava como um animal faminto que de fome ameaçava atacar. Ela parecia fita-lo como se fosse à presa da vez. De repente, ela o atacou.
            Erick se esquivou da jovem que tendo errado seu alvo, caiu no asfalto desajustada como uma boneca sem vida, em seguida, novamente ela ficou de pé e voltando-se para trás, na direção de Erick.  Ele, ainda mais assustado do que antes, recua alguns passos, ela avança na mesma proporção, de repente um susto. Os cinco estranhos que corriam em direção a eles, subitamente surgiram por trás da jovem e começaram a mordê-la, esquecendo por um breve momento que ali perto havia carne mais fresca.
            Aterrorizado, Erick sentiu seu sangue gelar nas veias, tentou correr, mas suas pernas travaram de medo. Não conseguia se quer desviar o olhar daquela cena de canibalismo, e por que não? O homem é o ser mais abominável da face da terra. De tão aterrorizado não fez esforço para se afastar de um dos estranhos sem o braço que o notara ali perto e agora se aproximava, rosnando como um bicho selvagem. Somente com a dor de uma mordida na perna, Erick como se despertasse de um pesadelo voltou a si. Chutando a cabeça do que o havia mordido, acabou chamando atenção dos demais que devoravam a jovem. Agora todos o viam como um saboroso pedaço de carne viva.  Erick correu o mais rápido que suas pernas permitiam.
            Nova surpresa, ao virar a esquina, deparou-se com uma multidão de seres com olhos brancos e caminhar vagaroso que rosnavam e grunhiam como animais. Evitou seguir adiante, continuou a correr sem direção, evitando passar pelos zumbis, não adiantava, eles estavam por toda parte, infestando a cidade como uma praga que se alastra rapidamente por um campo de verduras. Após muito correr, só encontrou um lugar com as postas abertas para onde ele pode se refugiar. Sem escolha, correu para a delegacia local.
            Ao fechar as portas atrás de si, Erick se surpreende com o interior da delegacia. Esperava encontrar algum sobrevivente, alguma pessoa normal que pudesse ajuda-lo, mas infelizmente, isso, ele não encontraria por ali. O lugar estava totalmente devastado, como se um furacão tivesse passado por ali. Havia bagunça por toda parte, cadeiras quebradas, mesas jogadas e todo tipo de objetos espalhados pelo chão. Com certeza os zumbis haviam passado por ali, mas será que ainda estavam ali? Por precaução, Erick revistou as gavetas de uma das mesas do escritório do delegado, acabou encontrando uma arma ponto-40 com um pente cheio. Erick nunca havia manuseado uma antes, mesmo assim, guardou-a no bolso.
            Do escritório do delegado, Erick saiu rumo à ala onde ficavam as celas dos presos. Enquanto se aproximava do corredor das celas onde deveriam estar os detentos, um ruído fino, quase inaudível ganhava mais definição, à medida que Erick se aproximava das celas, o ruído crescia. Antes de aproximar mais um passo a frente, sacou e destravou a arma, era melhor ficar atento caso encontrasse outro zumbi. Prosseguiu a passos lentos e silenciosos na direção do estranho ruído. Logo chegou ao corredor com celas abertas. Deveria haver detentos presos ali, mas não, o lugrar parecia deserto. Durante a epidemia, devem ter aproveitado o caos para uma rebelião e fugir, por isso, o lugar inteiro encontrava-se aberto. Seguindo em frente, Erick chegou à fonte do ruído. O barulho vinha do interior de uma das celas dos detentos, era preciso checar, fazer o ruído parar, pois poderia atrair os zumbis para a delegacia.
            Era preciso chegar mais perto, entrar no interior da cela para descobrir. Erick o fez. Apesar da pouca iluminação dava para ver bem os uniformes da policia amontoados no canto da cela. Eram os policiais, de costas, encolhidos no canto. 
            —Olá?
            Todos se voltaram para Erick que agora consegue ver de onde vinha o ruído. Havia um detento, gemendo de dor, sua cabeça estava entre as grades da cela onde estava trancafiado, tamanho era seu desespero durante a rebelião, tentou em vão atravessar as grades para se salvar, agora estava a ser devorado pelos policiais zumbis. Um deles, ao ver Erick, carne viva, ataca-o. Erick aponta sua arma na direção do policial zumbi efetuando dois disparos. Com o barulho dos tiros, os outros zumbis se alertam, Erick corre.
            Desesperado, Erick atira a esmo nos policiais zumbis que o perseguiam, assim, conseguindo mais tempo para fugir. Precisava refugiar se isolar se quisesse sobreviver. Logo consegue chegar à sala do delegado. Ele adentra a sala, fechando a porta com a mesa do escritório sabendo que aquilo não os segurará por muito tempo. Não havia mais o que fazer, pois os zumbis já estavam atrás da porta, arranhando-a com unhas e dentes, desesperados para cravar os dentes na carne de Erick. 
            Erick tira o pente da arma, tinha apenas uma única bala. Olha em volta, deveria haver algum pente sobrando naquela sala, mas não encontrou. No lugar disso, encontrou sobre um armário de metal em um dos cantos do gabinete, um aparelho de radio. Apesar de não ser a melhor hora para ouvir musica, Erick o liga no momento que era transmitido novo alerta regional:
            (...) Lamentamos comunicar novas e más noticias sobre a infecção que está tornando nossos habitantes em verdadeiros canibais, agora, para quem estiver me ouvindo, estou aqui com o Doutor Lee, Um dos responsáveis pela produção do vírus do zumbi.
            Dr. Lee— Por favor, primeiro peço que prestem bastante atenção, quero que todos os sobreviventes que estiverem ouvindo permaneçam em suas casas e não saiam, as ruas estão infestadas dessas coisas. Segundo: tomem muito cuidado para não ser mordido pelas criaturas, pois o vírus é muito contagioso, apenas um leve corte dos dentes ou unhas deles é o suficiente para infecta-lo, matando-o aos poucos. Após a morte o resultado é o infecto tornar-se um canibal, como eles. Terceiro (...)
            Erick novamente aquiesceu-se quando as luzes se apagaram, algum zumbi maldito devia ter quebrado o quadro de energia fazendo o quartinho apertado escurecer totalmente. Agora Erick via-se no inferno. Não havia luz,  não havia mais rádio, não havia mais saida. Estava preso em um gabinete no interior de uma delegacia infestada de zumbis que queriam devora-lo a todo custo. Erick ainda sente a forte dor na perna, logo, lembra que fora mordido por um dos zumbis enquanto socorria a moça. Agora as palavras do médico ecoavam em sua cabeça:

            “Tomem muito cuidado para não ser mordido pelas criaturas, pois o vírus é muito contagioso, apenas um leve corte dos dentes ou unhas deles é o suficiente para infecta-lo, matando-o aos poucos. Após a morte o resultado é o infecto tornar-se um canibal, como eles”.

            Era o fim para Erick. A dor pequena mordida em sua perna doía como se tivesse pisado em uma mina. Pior era saber que em breve, se tornaria um canibal como os outros. Não havia cura, não havia escapatória. No escuro da sala Erick recoloca o pente na arma, destrava-a e em seguida leva até a cabeça. Do lado de fora da delegacia ouve-se um disparo, um clarão de luz, iluminou o escuro no gabinete do delegado naquela noite. 

                                             FIM



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