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O crime de Mond – Por Salomon
(meu primeiro Conto policial)
Subindo as escadas apressadamente, acompanhado de outro
policial qualquer, Victor chegou á porta do quarto da vitima. Esta se
encontrava ligeiramente aberta de forma que permitiu aos dois homens adentrarem
e se dirigirem por entre os outros homens que ali estavam até o banheiro da
acomodação, que era o local do crime.
-O que aconteceu aqui?- Perguntou Victor se
dirigindo a mim adentrando ainda mais o banheiro amplamente espaçoso. Logo, já
estava varrendo todo o local ao redor com seus olhos de águia que tudo captava
e nada deixava despercebido. Seus olhos sempre eram sublimes ofuscados atrás
das lentes negras de seus óculos raibam. Notei que como sempre, ainda usava seu
inseparável casaco sobre tudo negro por sobre seus ombros largos, caindo até
quase em seus joelhos escondendo a arma ponto-40 no coldre que eu tinha certeza
que ele levava consigo onde quer que fosse. Seu cabelo negro tinha um ou dois
fiozinhos grisalhos, que por descuido vaidoso meu amigo não conseguira ver para
cortar e disfarçar a velhice. Seria seus fios de cabelo branco sinal de que meu
amigo estava envelhecendo e seus olhos de águia perdendo a capacidade de tudo
ver? Por um breve momento receei por isso.
Ao entrar no banheiro, Victor deparou-se
com o que parecia ser uma cena de crime muito comum em nossa profissão. O
banheiro estava úmido, eram ainda poucas horas da madrugada e um corpo estava
sendo retirado de dentro da banheira que transbordava água. O corpo era de uma
linda e jovem moça de pele morena e longos fios de cabelo negro. Tinha a pele
límpida, seu corpo era esbelto e provocador. A jovem estava totalmente despida,
sinal que morrera durante o banho na banheira cheia d´água. De inicio, alguém
citou morte por afogamento, mas havia uma espessa espuma branca saindo por suas
narinas e boca, o que não era muito comum em casos de afogamento.
Somente quando os homens do IML sairam
levando o lindo cadáver da jovem moça, voltei-me a mim mesmo para responder ao
meu amigo recém-chegado:
-Olá Victor! Chegou antes que eu pudesse
analisar melhor a situação, então creio que não conseguirei dizer muito a
respeito desse caso, mas o que eu sei, posso agora mesmo lhe passar. – Aqui fiz
uma pequena pausa para olhar em meu bloco de notas- Aqui está! O nome da vitima
é Mila. Tem vinte e sete anos e trabalhava em uma loja como atendente e caixa.
Tinha um namorado, mas morava sozinha com seu gato preto de estimação. Ao
que parece ela morrera entre as dez horas da noite de ontem e uma da madrugada.
–
-Possível causa da morte?- perguntou Victor
fazendo-me parar de repente. Aproximando-se mais da banheira de onde o corpo
fora retirada.
-A única hipótese viável até agora é morte
por afogamento, mas precisamos do resultado da autopsia com o Dr. Lee para
confirmar isso-.
-Não foi morte por afogamento- Disse ele-
Foi morte por eletrocussão. Você notou que a vitima tinha uma estranha espuma
fugindo por sua boca e narinas. Já vi muito disso em casos de suicídio. Estou
vendo o objeto que provocou a morte da jovem. – E disse isso apontando para um
fio cuja uma das pontas estava diretamente ligada á uma tomada elétrica
localizada entre o chuveiro e a banheira, enquanto a outra ponta se perdia
submersa dentro da banheira.
Victor depois de ter retirado seu relógio
de pulso e o guardado em seu bolso, dobrava as mangas de seu casaco. Logo
percebi sua intenção, ele ia afundar o braço na banheira a fim de retirar o
aparelho cuja uma das pontas do fio estava ligada á tomada e a outra submersa
na água.
-VICTOR NÃO!-Gritei- A ÁGUA AINDA DEVE
ESTAR ELETROCUTADA!-.
Mas Victor como uma criança teimosa, e
ignorando meu alerta continuou a enfiar seu braço dentro da banheira,
afundando-o na água. Eu o olhava esperando vê-lo tomar um enorme choque
elétrico, mas isso não aconteceu e Victor tirou seu braço da água segurando um
aparelho elétrico muito comum de se barbear.
-Eis aqui a arma do crime!- Disse ele após
tirar o objeto da tomada e entregando-me em mãos pediu para que levasse ao
laboratório do Dr. Lee. Victor deu outra rápida olhada ao redor do banheiro à
procura de mais pistas que pudessem revelar o que acontecera ali nas horas
anteriores. Notei que ele dava maior atenção a uma das paredes então me pus a
observa-la também.
Não havia ninguém mais além de nós dois
ali, os outros policiais e alguns homens do corpo de bombeiros esperavam no
corredor do prédio. A parede que observávamos atentamente, para mim não queria
dizer muito, mas Victor a encarada como se ela fosse o próprio autor do crime.
Havia nessa parede uma pia metálica bem conservada e limpa, e ao seu lado uma
base que servia como suporte para objetos que a morta usava para cuidar de sua
vaidade como creme para cabelo, sabonetes, escova de dente etc. Logo acima
dessa base de suporte desses objetos, havia uma janelinha com aproximadamente
meio metro de diâmetro quadrado. Pequena e alta demais para alguém passar por
ela. Não havia nenhuma outra janela no cômodo inteiro além dessa.
Entretanto. Victor saiu do banheiro, entrando na alcova da
vitima. Lá havia uma cama que se encontrava quase que totalmente revirada. Os
lençóis e a colcha estavam caídos no chão enquanto os dois travesseiros e o
colchão estavam desajustados fora do lugar. Meu misterioso amigo como sempre se
mantinha em um silêncio perturbador que logo tratei de quebrar expondo minha
visão dos fatos:
-Acho realmente que foi suicídio!-
-Muito cedo para conclusões precipitadas! – disse ele mexendo
em um dos travesseiros. E Removendo-o do local sobre a cama, encontrou uma nova
pista, um pequeno aparelho celular.
-Veja bem Victor a vitima morava sozinha, e isso indica
isolação, o que nos leva a crer que ela tinha problemas para se relacionar com
a sociedade, ou seja: Depressão. Fim de caso Victor, a vitima se matou! Ganhei
essa, há ha!- Mas Victor se mantinha frio e cauteloso mexendo no aparelho
celular e avaliando suas expressões faciais notei que algo o intrigava muito.
-Sejamos mais racionais meu amigo, muitas pessoas vivem
isoladas, mas nem por isso são depressivas, além disso, você está deixando
muitos fatores escaparem. – Aqui ele disse olhou para mim com seus olhos por
cima das lentes negras de seus óculos e complementou - depois de todos esses
anos ao meu lado não conseguiu aprender nada? – Mas antes que eu pudesse
responder, fui subitamente impedido pela chegada de um dos homens da polícia
que anunciava:
-Senhores! Encontramos uma testemunha que
disse ter visto alguém sair do quarto pouco antes da meia noite, creio que
talvez seja de total interesse de vocês verem isso melhor-. Victor Voltou seu
olhar para o policial e disse:
-Mande a testemunha dormir e descansar um
pouco, pois amanhã vamos interroga-la. Agora nós temos uma suspeita que devemos
imediatamente investigar. - e voltando para mim, falou- Vamos! Precisamos
chegar o mais rápido possível na casa do superintendente Kou. Por um
instante, sem nada entender, fitei-o de volta e perguntei:
-Mas Victor! O que vamos fazer a essa hora
da madrugada na casa de nosso superior?- E Victor tirando os óculos escuros e
guardando-o no bolso do casaco respondeu-me olhando seriamente nos olhos:
-O namorado da vitima deixou este celular
aqui na cena do crime, e ele pertence ao filho de nosso chefe Júlio. Agora mais
alguma pergunta?-
Novamente o silêncio predominou no aposento
e vi-me diante de mais um caso que exigia maior atenção e cuidado. O dia ainda
mal começara e tão cedo de madrugada, tanto a minha quanto a capacidade
intelectual de Victor eram colocados á prova a fim de chegar ao fim daquele
caso. Eu como sempre estava perdido em meio as minhas próprias conclusões e
poucas informações fornecidas pelas pistas até então encontradas na cena do
crime, enquanto meu amigo e parceiro de investigação, Victor se mantinha frio e
calculista, sempre pensativo e refletindo acima de meu nível.
Chegamos rápido no carro de Victor á casa
do nosso superior e superintendente. Lá contamos ao lorde o que ocorrera até
então e ele muito decepcionado não queria acreditar que seu filho estava
envolvido com a morte da jovem moça, alegando que jamais esperaria tal
desconfortável noticia sobre seu filho. Também não teve opção á não ser
permitir-nos levar o jovem garoto para a delegacia onde o interrogaríamos a
respeito do crime que culminara na morte de sua namorada.
Já eram aproximadamente oito horas da manhã
quando chegamos à delegacia, levando conosco o jovem rapaz de cabelo curto bem
aparado e cavanhaque no queixo. Também era robusto e tinhas as feições faciais
rígidas como as de seu pai. Vestia uma simples bermuda ou um short muito
simples e comum entre os jovens daquela idade junto com uma camiseta regata que
destacava bem seus braços fortes, resultado de muito suprimento alimentar e
anos e anos de academia. Tinha o olhar apreensivo e, contudo mostrava-se
aparentemente chocado, isso depois de citarmos a morte de sua namorada. De
certa forma eu não sabia mais em que acreditar, pois se o jovem ali era culpado
ou não da morte da jovem, então ele deveria ser um ótimo ator, pois até algumas
tímidas lagrimas derramara após saber de sua morte. Mas mesmo assim, ele era um
suspeito, pois como a pessoa mais próxima da vitima, tinha fortes indícios como
autor da morte da jovem, e a pista que nos levara a essa conclusão era seu
celular encontrado na cama da vitima. Levamo-nos direto para a sala onde
fazemos o interrogatório, onde permaneceu quieto e calado até a entrada de seu
pai acompanhado de Victor, enquanto eu os observava através do espelho dupla
face e os ouvia pelo interfone estrategicamente posicionado na cadeira onde o
suspeito estava.
A todo o momento, Júlio o nosso suspeito
dizia que era inocente e complementava dizendo que estava abalado com a morte
de sua namorada. Seu pai demonstrava-se muito abatido e assustado com tudo
isso. Jamais antes pensara que seu prezado filho pudesse algum dia ser suspeito
de um crime. O superintendente estava muito preocupado, pois era notável
que assim como eu naquele momento, não sabia mais em que acreditar, se seu
filho era ou não responsável pela morte da jovem e bela moça.
Victor, implacável e frio como sempre o
questionava fazendo perguntas como: Havia motivos que o levariam a cometer
assassinato? Como namorados vocês discutiam muito? Onde estava na noite
anterior? Você pode me explicar como o seu celular foi parar na casa dela?...
Mas Júlio chorando negava a todo o momento
ser o autor do crime, e também se defendia dizendo que frequentemente a
visitava como todo bom namorado faz, alegando logo em seguida que só continuaria
respondendo na presença de seu advogado. Entretanto, o superintendente muito
cabisbaixo e com o olhar triste sobre o filho, deixou a sala de interrogatório
sem nada dizer. Fora da sala foi direto ao meu encontro e com mutua tristeza no
olhar disse-me:
-Eu não sei em que acreditar. Esse moleque
nunca me deu trabalho antes, e agora ele me vem com essa na intenção de me
matar do coração- e colocando a mão no peito continuou- oh deus onde foi que eu
errei?-
-Senhor! Ainda não sabemos ao certo se foi
ou não morte criminal, pois há também a hipótese de suicídio ou até mesmo morte
acidental. – Disse-lhe pondo a mão no ombro em uma tentativa inútil de
conforta-lo.
Logo se se juntou a nós um policial
acompanhado de uma velhinha decrépita que aparentava não ter mais que setenta
anos, vestindo um pesado vestido de lã e um casaco de linho para proteger-se do
frio da manhã gelada, além de um cachecol envolto do pescoço.
-Aqui está a testemunha que disse antes-
Anunciou o policial que a acompanhava e dando meia volta partindo de volta para
seu posto como patrulheiro. Enquanto Victor do lado de dentro da sala de
interrogatórios entrevistava o suspeito, eu do lado de fora, entrevistava a
testemunha do crime:
-Conte-nos minha senhora, tudo o que sabe e
que não sabemos a respeito da noite anterior- E a velha dispôs-se á narrar:
-Sim claro! Vou então começar a partir do
momento em que eu tentava dormir em minha aquecida e confortável cama de
mosqueteiro, mas eu não conseguia pregar os olhos, nem mesmo depois de ter
tomado minhas pílulas do sono. De fato eu não conseguia dormir e isso devido
aos barulhos incessantes no quarto vizinho ao meu que pertence a jovem moça que
recém partira dessa para melhor. Pois bem. Havia barulho, muito barulho entre
pancadas e gritos de dor, uma barulheira infernal que não me deixava ter o
merecido descanso do sono. Nunca antes houve tanto barulho vindo do quarto
daquela jovem que eu julgava ser tão “quietinha”. Então, logo eu desisti de
dormir e fui assistir tevê. Já se passava das dez e meia quando notei que o
barulho havia cessado, e eu curiosa resolvi ver o que se sucedia ali. Foi então
que abri a porta do meu cômodo e vi pela pequena fresta vi o jovem moço que ali
está – Apontou para Júlio através do espelho duplo face -Sair pela porta da
frente do quarto da moça, e então descer de forma sorrateira e silenciosamente
a escadaria até o andar térreo onde deve ter ido para sua casa.
Depois disso, tendo visto que a noite
voltara à calmaria como de costume, voltei para a cama onde pude desfrutar de
adoráveis sonhos por algumas poucas horas. Mas logo fui acordada subitamente
por novos barulhos vindos do quarto vizinho, mas só que dessa vez, quando fui
investigar, já eram os próprios policiais e bombeiros levando o corpo de minha
adorável e barulhenta vizinha. Fiquei assustada ao vê-la daquela forma
horrorosa, morta. –
Após o relato da velha senil, eu pude ver
que o superintendente escondia o rosto com as mãos para disfarçar as lágrimas
que lhe fugiam, e desolado disse:
-Não há mais duvidas! Meu filho a matou,
agora sou forçado a conviver com esta vergonha em minha família. Oh Deus,
novamente pergunto a ti, onde foi que eu errei?- E de cabeça baixa, retirou-se,
deixando-me em companhia da velha. Em nada mais eu poderia consola-lo, pois até
eu mesmo já estava quase totalmente convencido de que seu filho era um
criminoso. Quanto à velha senhora, perguntei intrigado:
-Então não foi você que chamou a policia
aquela hora da madrugada?-
-Não – Disse ela – Como eu disse, eles já
estavam lá quando acordei.
-Hum, então alguém deve ter chamado a
policia, mas quem?- E ficamos ali nos entre olhando pensando nas inúmeras
possibilidades, motivos e razões que possivelmente poderiam ter ligação com a
morte da jovem.
†††
Doutor
Lee havia nos convocado após o interrogatório para comparecer imediatamente em
seu laboratório onde o corpo da vitima fora analisado pela autopsia. Lá
encontramos o corpo com o peito aberto expondo todo seu interior a nossa vista.
Devo confessar que mesmo diante de brutal mutilação, seu rosto ainda era belo e
encantador.
Lee usava assim como Victor, usava seu
jaleco preto, recusando o convencional de cor branca. Isso sempre me gerou
duvidas, mas respeitava-os por escolher o preto em suas indumentárias. Logo se
pôs a nos revelar o resultado da autopsia morta:
-Olá amigos, chamei-os secretamente de
nosso superintendente por que sei que esse caso, diferente dos outros envolve
alguém próximo a nós, o filho de ninguém menos do que o homem que assina os
nossos cheques, e por esse motivo, devemos dar maior atenção a esse caso e
sermos precisos em nossas conclusões.
Bom... Após minha vistoria no corpo da
jovem moça acabei descobrindo o real fator de sua morte. E a vitima realmente
morrera por eletrocussão da agua provocado pelo aparelho de barbear que ligado
á tomada elétrica e entrando em contado com a banheira cheia de agua resultou
na morte da jovem, também fazendo sua boca espumar. Mas não é só isso. Também
descobri através de resíduos de sêmen em sua boca que a morta teve relações
sexuais pouco antes da morte. E tem mais, vejam isto-...
Lee foi até o balcão onde tirou um pote de
vidro transparente contendo um liquido viscoso que continha em seu centro um
pequeno feto de poucos centímetros de cumprimento.
-Ela estava gravida de Júlio!- Complementou
Lee exibindo o feto dentro do pote- Também descobri resíduos de pílulas de
antidepressivos. Obviamente isso indica que a morta, quando ainda viva, sofria
de depressão. Isso é tudo o que seu corpo pode me revelar, mas foi o aparelho
de barbear que me deu mais informações a respeito do caso que de inicio julguei
antecipadamente ser suicídio ou acidental.
Eu achava que pelo que me foi informado
sobre o banheiro da vitima, o barbeador que por distração estava ligado na
tomada e deveria estar sobre a base que vi nas fotos sobre a banheira, devido à
potência alta de seu motor interno, vibrara tão fortemente ao ponto de ter-se
movido sozinho até cair dentro da banheira. Então para ter certeza dessa
conclusão, como podem ver ali, montei um cenário quase que idêntico ao
banheiro, com base de suporte para o aparelho e a banheira logo abaixo.
Entretanto, quando coloquei o aparelho á prova, mesmo em máxima potência, ele
se manteve imóvel em seu lugar, sua posição se manteve inalterável. –
-Isso descarta a possibilidade de morte
acidental não é mesmo Doutor?- Indagou Victor cruzando os braços.
-Eu diria que sim, mas ainda resta saber se
fora suicídio ou homicídio- Disse o Doutor.
-E o que o senhor acha Doutor?-
-Eu nada posso afirmar a respeito disso,
mas o barbeador me deu outra pista que julgo muito importante para o desfecho
desse caso. –
-E que pista é essa Doutor?- Perguntei
inquieto suando frio diante de tamanha tensão. E o doutor olhando-me seriamente
nos olhos disse:
-Eu investiguei mais sobre o barbeador e
acabei descobrindo que ele pertence á Júlio-.
Aquela altura para mim, não havia mais
duvidas, eu realmente já estava convencido de que Julião o filho de nosso chefe
era de fato o autor da morte da jovem sua namorada. Todas as pistas e fatos
apontavam para ele como principal suspeito. Também já formulara em minha mente
o possível motivo para que ele cometesse tal crime.
Ao sairmos do laboratório, Victor e eu
fomos ao seu gabinete pessoal, onde pudemos avaliar e questionarmos melhor
sobre o caso.
-Então é isso- Disse-lhe inconformado-
Júlio é realmente um assassino, não nos resta mais duvidas! A proposito o que
ele disse no interrogatório?-
Victor estava sentado em sua grande e
confortável cadeira de couro acolchoado atrás de sua mesa de escritório
teclando distraído algumas letras em seu notebook. Quando me virei para ver o
que ele fazia ali, surpreendi-me ao vê-lo acessar interessadamente um site de
compras online onde estava no tópico sobre rações para gatos.
-Victor! Eu não sabia que criava gatos-
Articulei.
-Atualmente eu não crio, mas pretendo criar
um. E sobre Júlio, ele apenas me disse que realmente amava sua namorada, nada,
além disso. Você chegou á alguma conclusão? –
-Ah sim, sim eu creio que cheguei ao fim
desse caso, e devo dizer que estou decepcionado com você Victor, está muito
distraído e não conseguiu resolver esse caso antes de mim, parece que está
perdendo o jeito. Bom eu concluo que Júlio é realmente culpado, pois ele havia
razões e oportunidades para cometer o crime. –
-Razões? E quais seriam?- Indagou Victor
ainda com o olhar atento ao monitor do notebook.
-Júlio mentiu para você no interrogatório
quando disse que amava a vitima, pois na noite do crime, sabendo ele que ela
esperava um filho seu, sabendo que seu pai não suportaria saber que seu filho
ainda muito jovem seria papai também, tratou logo de mata-la para que não
tivesse esse filho, e fez isso tudo parecer com suicídio, mas ele não contava
com a testemunha que me foi muito útil e valiosa nessa questão-. Após
minha explicação, Victor desabou a rir como se o que eu acabara de contar ali
fosse a mais hilária das piadas já contadas.
-Qual e a graça?- Perguntei revoltado e
intrigado com o rosto vermelho sem nada entender. Victor após seu ataque de
risos se recuperou e levantando-se da cadeira, foi em direção ao cabideiro onde
estava seu inseparável casaco negro, retirando-o dali e pondo sobre seus largos
ombros altos. Após colocar os óculos escuros disse-me:
-Esse seu ponto de vista ridículo Sr.
Salomon, é totalmente ridículo hahaha, como é Hilário! É por isso que gosto de
trabalhar com você. Você é engraçado, e anima o meu dia. Hahaha...
-Então você discorda que... - E antes que
eu pudesse terminar a frase, Victor interferiu:
-Discordo que Júlio seja um assassino, pois
ele realmente amava sua namorada assim como amaria seu futuro filho se o
tivesse-. Victor saiu do gabinete e se dirigia rumo á saída do prédio, indo em
direção ao estacionamento onde seu Fiat negro quatro portas o aguardava. Eu o
seguia ainda mais intrigado. Logo ele chegou ao carro e adentrando-o
convidou-me ao banco de passageiro.
- Então você já solucionou o caso?-
Perguntei-lhe enquanto entrava no carro e colocando o cinto de segurança,
sabendo que dali á poucos instantes, estaríamos em alta velocidade pelas ruas
da cidade. (Era assim que Victor dirigia, como um louco).
-Sim e não!- Respondeu ele.
Victor ligou o carro e foi sem perder tempo
pisando fundo no acelerador, conduzindo com habilidade o veiculo, desviando de outros
carros e pedestres, fazendo curvas perigosas em ata velocidade que nem um
piloto de corrida profissional.
-Como assim, “Sim e não”? – Perguntei sem
folego enquanto me segurava como podia dentro do carro- Explica-me, por favor-.
-Falta ainda pegar o verdadeiro autor do
crime!- Disse ele parando o carro frente a centro comercial, e quando olhei
pelo vidro escuro do carro.
-Onde estamos indo?- perguntei mais uma
vez.
-Pet Shop!- disse ele saindo do carro e
entrando no estabelecimento especializado em animais.
Em todos os anos que trabalhei ao lado de
Victor, jamais consegui compreender seu modo de pensar, nem mesmo conseguia
compreender certas exterioridades que ele tinha consigo. Mas mesmo assim,
sempre depositei total confiança em suas habilidades extraordinárias de dedução
e raciocínio. Ao seu lado, eu não deixava de me sentir o Dr. Watson nos contos
policiais de Arthur Conan Doyle, acompanhando de perto o modo como Sherlock
Holmes chegava ao final de seus casos policiais através de pistas e deduções
precisas.
Após alguns minutos, Victor saiu da loja
carregando um enorme saco de ração, e com pouca dificuldade, carregou-o até o
porta-malas, voltando em seguida para dentro do carro, logo já estávamos
novamente em alta velocidade desviando de carros e pedestres, rumo ao centro da
cidade onde ficava o prédio que encontramos a moça morta. Rapidamente chegamos
ao local. Victor correra tanto que senti meu sangue gelar em minhas veias. Ele
tinha quase tanta habilidade no volante quando como intelectual.
Sem perder tempo, descemos do carro
estacionado na porta do prédio, e Victor foi logo retirando o saco de ração do
porta-malas. Minutos depois já estávamos subindo os muitos degraus do prédio
até o andar da vitima. Andamos pouco pelo corredor até chegarmos á porta onde
ainda estava conservada a faixa amarela com os dizeres: “Cena de crime, não
ultrapasse”.
Entramos. Era o quarto da jovem, e ainda se
mantinha do mesmo jeito que o deixamos, cada objeto em seu devido lugar, nada
fora revirado e nenhuma alteração fora feita.
-Victor! Porque estamos aqui? Oque vai
fazer com isso?-Perguntei-lhe apontando o saco de ração.
Victor foi direto ao banheiro onde
encontramos o corpo, e lá chegando, subiu no assento do sanitário e abriu a
pequena janelinha sobre o chuveiro, que fez uma leve brisa adentrar no cômodo.
Em seguida, abriu no dente o saco de ração que levava consigo, e despejou
todo o conteúdo sobre a base na parede que servia de suporte para os produtos
vaidosos da antiga dona.
-Veja e verá- Disse Victor com ar
misterioso terminando de despejar toda a ração na base e tirando do casaco um
aparelho de barbear elétrico, semelhante ao anterior encontrado dentro da
banheira. Também o depositou sobre a base de suporte logo acima da banheira.
Após isto ele se afastou, e cruzou os braços como que esperando algo acontecer
ali. Eu observava a tudo atentamente da porta do banheiro, contudo, sem nada a
entender.
Tendo se passado exatos três minutos,
ouvimos um miado muito distinto, inconfundível, era um gato que sentindo o
cheiro daquela ração que Victor depositara ali, aproximava-se rapidamente. Logo
o estranho felino de pelos negros saltou da janelinha sobre o chuveiro
aterrissando graciosamente sobre a base de suporte. Nesse ato, notei que o
bichano desastrosamente havia deixado o aparelho de se barbear cair dentro da
banheira.
Victor não perdeu tempo, foi logo agarrando
o gato e o segurando pelo dorso, virou-se para mim exibindo o felino dizendo:
-Eis aqui o verdadeiro autor do crime!- em
seguida colocou-o no braço e começou a acaricia-lo. O gato de grandes olhos
verdes começou a ronronar.
†††
Quando a noite chegou, parecia que tudo já
estava esclarecido e resolvido. A inocência de Júlio foi provada, mas seu pai
mesmo pouco mais aliviado com o filho, ainda demonstrava-se muito decepcionado
pelo fato de ele não ter contado sobre o filho antes. Ambos decidiram passar o
resto da noite juntos a falar sobre isso.
Enquanto isso, Victor e eu continuávamos a
debater o caso juntos em seu gabinete pessoal. Muito intrigado ainda,
questionei-o sobre como ele conseguiu chegar ao final de mais um caso tão
sublime e de forma tão racional.
-Tá, mas... Por que Júlio não quis falar
nada no interrogatório?- Indaguei.
-Ora, mas ele falou. Disse-me que amava a
jovem moça e que nunca a mataria. Também me revelou que sabia que a mesma estava
gravida dele, e que pretendia ter esse filho com a moça. Mas não o podia
revelar na frente de seu pai, pois sabia que ele ficaria muito bravo e
decepcionado. Assim após a saída de seu pai da sala de interrogatório, ele
abriu o jogo comigo. De fato ele era inocente, aliás, um bom rapaz, foi ele que
emprestou o aparelho para a namorada, não queira saber por quê. Agora o celular
deixado na cena do crime foi mera distração do jovem.
-Hum... Isso faz sentido, mas e a
testemunha? Ela disse ter ouvido gritos de dor e pancadaria no quarto na noite
o crime e depois viu o garoto sair sorrateiramente do prédio. - Após estas
minhas palavras, Victor novamente desabou a rir por longos segundos. Algum
tempo depois recuperou o folego e disse:
-Gemidos! E não gritos, o que você acha que dois jovens
apaixonados estariam fazendo sozinhos em um quarto à noite, que deixaria na
manhã seguinte os lençóis o colchão e os travesseiros espatifados sobre a cama?
Hahaha você me mata de rir Salomon, essa velha não é testemunha nem pode ser
considerada importante no caso. Também acredito que ela não gostava tanto assim
de sua vizinha, e sabia que o casal estava praticando orgia. -
-Nossa! Então, pelo menos ela morreu
satisfeita hahaha- Disse por fim rindo de mim mesmo. – Mas Victor! Ainda há
algo me intrigando bastante!-
-E o que seria?-
-É a policia! Como eles conseguiram chega
lá tão rápido se não foi à velha que os chamou? Alguém deve ter chamado!-
Victor ainda acariciando o felino em seu o
colo, fitou-me com os olhos por sobre as lentes negras de seus óculos com o ar
sério e frio de costume dizendo:
-Boa pergunta meu amigo! No entanto a
resposta é bem simples. Foram os próprios bombeiros que chamaram a policia. O
prédio possui em suas instalações elétricas um mecanismo ligado direto com o
corpo de bombeiros, que indica que no prédio em certo andar ocorreu um curto
circuito que poderia resultar em um desastroso incêndio. Esse mecanismo só
existe nos prédios construídos mais recentemente e ajudou a evitar muitos
incêndios por aí. Foi através desse mecanismo que eles souberam que no quarto
da vitima ocorrera um curto circuito quando o aparelho ligado á tomada entrou
em contato com a agua da banheira, culminando na morte da jovem moça. Quando
eles chegaram aqui, e se depararam com a jovem moça morta na banheira,
rapidamente chamaram a policia. -
Ao final dessa explicação dada por Victor,
eu não tinha mais duvidas. O caso da morta na banheira se encerrava ali e o fim
do expediente estava já havia acabado. Era chegada a hora de voltar para minha
casa. Enquanto me agasalhava com um simples casaco de couro, observava Victor
acariciando o felino.
-Antes de ir, tenho só mais uma duvida!-
Disse. - Oque vai fazer com o autor do crime? –
-Vou adota-lo como minha mascote! Ainda não
tem nome, sugere algum? –. Após um breve momento em silencio, respondi:
-“Mond”!-
-Mond?-
-É, fica com pronuncia “munth” que
significa luar em alemão-. Victor pôs-se a rir de mim mais uma vez, mas logo
cessou a gargalhada e pronunciou:
-Que porra de nome é
esse? Hahaha, mas tudo bem! Ele se chamará Mond!- Disse isso voltando a olhar
para o gato sobre suas pernas, acariciando seu pelo com a mão, enquanto eu
voltava para casa a fim de descansar e aguardar o proximo caso.
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