O Cavaleiro Negro (Black Knight) Contra
Cérbero – Por Salomon
Sensação calorenta e quente a beira do maior abismo do mundo
oculto chamado de inferno, vislumbrando a imensidão do abismo onde almas a sua
volta são jogadas a todo o momento friamente por demônios no buraco que parece
não ter fim, estava o Cavaleiro Negro montado em seu corcel negro seu cavalo batizado
pelo próprio demônio, este também se encantava com tamanha vastidão dentro do abismo
na parte mais alta daquele lugar tão aterrorizante.
Lugares exóticos, paisagens, vistas deslumbrantes e
colossais são as paixões do cavaleiro Negro, elas despertavam algo nele que não
era fácil de compreender, ficar assim tão perto de um abismo, sendo que um
palmo a frente poderia estar a sua condenação, um simples mortal
encontrar-se-ia mais cedo com a desgraça ou a morte se ainda estivesse vivo, se
desse um passo a frente.
Enquanto vislumbrava, lembrava-se de sua vida ainda como
mortal, com seu cavalo encontraram um abismo semelhante a este, talvez por
isso, talvez por fazê-lo lembrar de quem era antes do pacto, esses lugares o
encantavam tanto. Era realmente isso, suas lembranças ainda estavam perdidas,
sua cabeça ainda agora é poço profundo de imagens e vozes, lembranças de quem
era antes, perdida, que aos poucos estava recuperando.
Sua armadura de cor negra tomava a cor de vermelho
encarnado, efeito causado pelo fogo que existia em toda sua volta, a mascara
que esconde seu rosto ardia quase querendo derreter ao calor do lugar, mas nada
disso o incomodava, não sentia calor, dor, remorso, nem sensação semelhante, pontos
fracos que seu mestre arrancou-lhe para não o desviar de suas incumbências.
Seu corcel fumegava chamas pelas ventas e labaredas de fogo
surgiam de seus olhos, era o sinal que seu mestre o invocava, necessitava de
seus esforços na terra dos mortais, uma superfície plana e circular queimando
rapidamente em labaredas de fogo vermelho surge há 20 metros da beira do abismo
afrente do cavaleiro negro, era um portal que o levaria direto ao seu mestre.
Ele puxa as rédeas de seu corcel para tomar distancia, logo,
este começa a correr como uma fera selvagem correndo atrás de uma presa que percorrem
distancias desvairadamente para fugir da morte certa, eles saltam dentro do
abismo, e no impulso de sua montaria quase chegam a voar até o portal, as duas
figuras desaparecem no ar, junto com a passagem que adentraram.
Do outro lado do portal, havia barulho, o cavaleiro surge
com sua fiel montaria, causando uma quebra de agitação do ambiente, onde gritos
de dor e agonia junto com chicotadas e barulho de laminas incisando almas era a
única sonoridade do lugar agora se fazia silencio, para a passagem do cavaleiro
que era servo fiel do próprio demônio que dominava todo o recinto, e por isso
era respeitado pelas outras criaturas malignas e diabólicas do lugar.
Ele desce de seu corcel, o lugar agora é oque parece ser um
palácio gigante com pilastras que subiam infinitamente até encontrar um teto
que parecia não existir, esse é o castelo, onde o próprio demônio expulso e
condenado do Paraíso encontrava suas mordomias junto com mais demônios e alguns
seres malignos. Seu corcel fica parado, deixa-o ali mesmo, ao lado de onde estava
o portal de onde vieram que já havia desaparecido após sua entrada. Os portais
que se se abriam dando passagens a mundos diferentes era uma habilidade que só
os descendentes do próprio demônio mestre supremo, poderiam produzir. Somente o
corcel negro era uma exceção, ele poderia abrir e fechar uma passagem
dimensional do mundo oculto para o mundo dos humanos, uma habilidade adicional
que foi concedida no dia do pacto do cavaleiro negro.
Ele caminha mais
alguns metros até chegar perto do trono, e se curva como um ato de fidelidade e
mostrar veneração, com o rosto em direção ao chão. De forma alguma ele ou
qualquer outra criatura ali ousava olhar diretamente para quem residia naquele
trono, optava então por olhar sempre para o chão, ele já sabia quem estava a
sua frente, eram três tronos, com á distancia de alguns poucos metros um do
outro, de forma que dava para o cavaleiro olhar para um dos lados e ver quem
sentava a direita de seu mestre, em um trono não menos importante, uma mulher
de olhos branquíssimos, trajando um vestido negro, com seus cabelos emaranhados
caindo para frente, era a filha dele, notou que esta o encarava de volta, volta
seu olhar para o chão, aguardando as camadas de seu mestre.
Uma voz bruta e rouca com um gutural funesto e arrepiador
quebrou o silencio do lugar:
- vá para o mundo dos mortais, meu guardião está perdido no
abismo da Geórgia, abrirei o portal que o levará-.
Sempre que tinha uma
ordem para cumprir em algum lugar ou dimensão, se não resolvesse ele mesmo, seu
mestre o mandava, direto para o lugar próximo de concluir a tarefa, era sempre preferível
o cavaleiro negro por que nunca falhara nem fracassara aos comandados de seu
mestre.
-alguém o deixou escapar,
essa criança tola não fechou os portões após sua visita aquele mundo devastado
pelos humanos, minha pequena e irresponsável filha. Agora vá, mas lembre-se de
que ele é um de meus guardiões não terá serventia se me trouxer morto.
Esse guardião é Cérbero, um cão monstruoso e gigante com
três cabeças sempre faminto que era responsável por cuidar do lado de fora do
castelo no inferno, como era um ser ignorante e irracional que atacaria até seu
mestre, ou até mesmo seu criador, era deixado do lado de fora dos portões do
castelo que era cercado por muros como uma fortaleza.
O cavaleiro negro apenas ouvia, não podia responder, não
havia boca literalmente em sua face, era limitado por causa de sua deformidade
macabra detrás daquela mascara escura que só deixavam exibir seus olhos
vermelhos.
-já tens os meus comandos, agora vá... Lembre-se que eu o
quero vivo-.
Tendo recebido e entendido sua nova tarefa, o cavaleiro
negro levanta-se, revela-se um corpo malhado, alto e forte, protegido por uma
armadura negra de um material questionável até por ele mesmo. Inquebrável,
nenhuma lamina, peso, ataque ou poder era suficiente para acabar com a proteção
que ela oferecia, de tão resistente.
Enquanto caminhava em direção ao seu corcel que estava
agitado, como se ansioso pela nova missão, sua capa esvoaçava como se criasse
vida, deixando amostra a bainha que fica do lado direito presa a perna da
armadura, onde sua espada negra pousava, suas laminas também negras eram
destacadas pelo cume de cor vermelha, cujo fora feita para cortar até o mais
duro e resistente corpo existente, cortaria uma escultura de metal maciça com
uma facilidade surpreendente para os humanos, feito com o mesmo material
desconhecido que fora arranjada a armadura, sua espada era sem duvidas uma das
armas mais perfeitas criadas no inferno.
Ele chega até seu corcel que batia as patas dianteiras no
chão ainda se mostrando ansioso, a chama que saia de suas ventas, agora
incinerava mais calmamente, seu relincho era como a de um cavalo normal, mas
havia uma sonoridade diabólica no som produzido por aquele animal maligno.
Após montar-se em seu corcel, outro circulo semelhante ao
primeiro surge à frente deles, era outro portal, mas desse ao invés de chamas
calorentas e labaredas de fogo do inferno, surgia uma lebre brisa ventosa, sinal
que o lugar que os aguardava era frio, talvez fosse noite, ou madrugada do
outro lado daquela passagem.
Ele monta e novamente puxa as rédeas do animal, que entende
aquilo como uma ordem de parar ou andar para trás como era daquela vez para
pegar distancia para novamente saltar pelo portal. Antes de dar o comando ao
corcel de prosseguir no salto, o cavaleiro olha brusca e ligeiramente para o
lado de seu mestre, onde estava sua filha de olhos branquíssimos como duas
esferas reproduções perfeitas da noite mais clara de lua cheia.
Eles avançam velozmente rumo à passagem, o corcel salta quase
que voando do chão levando seu montador que o segurava firmemente pelas rédeas atravessando-a
e novamente evanescem no ar, junto com o portal. Ressurgindo ao mesmo tempo em
um lugar engolido pela noite, seu corcel relincha alto, o fogo que surge de suas
ventas é a única iluminação do local, fora a lua que no momento encontrava-se
oculta por nuvens negras que logo desapareceriam.
Se deparam frente a um novo abismo, este era tomado
pela quietude da noite, e brisas suaves, frias, despertou novamente a sensação
de paz no cavaleiro, ele desmonta de seu corcel, aproxima-se mais do abismo,
fica a um passo do precipício, e olha para baixo, fascinado, não vê o fundo
daquilo, é exatamente igual a sua cabeça, não havia lembranças, apenas o nada,
sua memoria fora apagada após o pacto, recordava-se apenas disto, agora lutava
para recupera-la. Não fazia esforço para isto, na verdade nem sabia se
realmente queria saber do seu passado, sendo que ele nunca poderá ser o mesmo
de antes. Seria eternamente um servo do ser maligno, senhor do inferno.
No exato momento que pensava no seu mestre, a calmaria do
lugar é quebrada subitamente pela agitação nervosa do seu corcel, ele havia
pressentido a presença do guardião Cérbero, latidos estridentes estrondavam em
eco iludindo o cavaleiro a respeito da direção do barulho. As latidas eram cada
vez mais altas e estridentes, sinal que a monstruosidade se aproximava cada vez
mais. Ela estava correndo em direção a eles, corria velozmente, cada cabeça
latindo furiosamente, cada vez mais perto. O cavaleiro fica atento, mira no
horizonte os seis pontos reluzentes de luz amareladas, surgindo e se
aproximando rapidamente, eram os olhos das três cabeças de Cérbero, que corria
em direção a eles arrastando uma longa e enorme corrente presa a cada uma das
três coleiras nos pescoços. A criatura iria ataca-lo, não poderia feri-la, pois
seu amo a queria viva, elaborou rapidamente uma estratégia mental sem a menor
certeza de que daria certo. Espera atentamente a fera aproximar-se. Como de
costume seu corcel se afasta do local onde deverá ocorrer o confronto, mantendo
sempre uma distancia segura, pois apesar de possuir a mesma vestimenta do
material da armadura do cavaleiro, ela não tinha proteção que o livrasse da
morte, e ainda apesar das habilidades sobrenaturais, ainda era um animal vivo
como qualquer outro, por isso era preciso manter distancia dos confrontos de
seu montador a quem era unicamente fiel.
Cérbero se aproxima rapidamente, revelando-se uma criatura
com cinco vezes o tamanho do corcel do cavaleiro negro, mas seu tamanho parece
não incomodar o cavaleiro, que firme como o guerreiro sem medo que sempre foi
apenas mantem a postura. A cabeça do meio da criatura monstruosa, com sua boca
aberta deixando expor seus enormes dentes e com ainda restos de corpos e de
ossos presos por entre os dentes, parecia a primeira a investir contra ele.
O cavaleiro negro que apenas aguardava o momento certo e
oportuno para por seu pequeno plano em pratica encontrava agora o momento
perfeito para pô-lo em pratica, a criatura avança na tentativa de abocanha-lo,
ele após um pequeno impulso em suas pernas, salta por cima da criatura,
deixando-a seguindo desenfreadamente rumo ao abismo. Ele cai pesadamente depois
de ter saltado por cima da criatura monstruosa, e apenas olha para trás,
vendo-a cair pelo penhasco, “uma criatura tão irracional, não havia percebido o
abismo arás de mim” pensou consigo mesmo enquanto desembainhava sua espada e
fincando-a firmemente por entre as correntes que corriam rumo ao abismo, Corrente
essa que salva a criatura de cair penhasco abaixo, ficando suspensa presa
apenas por ela, que era segurada pela espada negra que havia sido fincada
exatamente dentro do elo da corrente.
O cavaleiro negro caminha a passos pesados novamente até a
beira do precipício, ele olha para baixo, como que para se certificar que a
criatura monstruosa ainda estivesse lá. Ela esta, seu corcel o acompanha,
coloca e desce a cabeça para o precipício para assim poder admirar também,
agora relinchava mansamente como que saudando seu montador pelo feito astuto e
corajoso.
Cérbero gemia sentindo a dor de suas coleiras sufocando lhe,
parecia implorar para que o tirassem dali, nessa hora, surge uma nova passagem,
diferente das anteriores, essa era bem maior, levava ao exterior dos muros que
rodeavam o castelo no inferno, o ponto que antes Cérbero atuava como cão de
guarda, e voltaria. O cavaleiro negro vai em direção a sua espada, põe a mão
envolvida por luva com pontas metálicas, sobre ela, e antes que pudesse
removê-la para soltar a criatura de volta para o inferno, uma voz feminina e
delicada entra em sua mente:
- ele quer ser livre, não o mande para o inferno.
De assombro e espanto ele rapidamente tira a mão da espada,
e olha em volta, não há ninguém... quem deve ter pronunciado estas palavras?
Quem era a dona daquela voz tão delicada e encantadora? Pensou consigo mesmo.
Lembrara-se da filha de seu mestre, sabia que fora ela que
havia libertado Cérbero, agora fazia sentido a fuga desse monstro, a filha de
meu mestre havia libertado propositalmente aquela fera, queria deixa-la livre, ela
tinha um bom coração.
Mas lembrar do belo rosto daquela belíssima senhora, e ouvir
a voz suplicar para cessar o ato, não foram suficientes, para entrar no coração
gelado e quebrar a fidelidade que ele tinha pelo seu mestre. Ele apenas arranca
a espada do elo que pendia a corrente deixando a enorme criatura cair dentro da
passagem para o inferno. Em seguida a passagem se fecha.
Olhando novamente para a imensidão do abismo, quase ignorou
os gemidos da criatura, semelhante a um choro de um cachorro desolado e com
medo, que ele havia mandado para o inferno.
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